domingo, 19 de junho de 2011

"O meu nome é Legião, porque somos muitos"


Um feito de muitos. Talvez esta seja a melhor maneira que há para tentar explicar o que é o Anonymous. A enorme comunidade online de anônimos, sem qualquer líder ou hierarquia, ganhou destaque na mídia internacional em virtude dos recentes escândalos envolvendo o Wikileaks. Após a divulgação de documentos secretos da diplomacia americana, companhias de cartões de crédito como Mastercard e Visa cortaram os meios de financiamento do site e bloquearam as contas de seu fundador, Julian Assange. Em resposta, surgiu na web uma campanha incitando usuários a sobrecarregar os sites dessas companhias com o intuito de derrubá-los, causando prejuízos às empresas. O movimento foi um sucesso, e o grupo que promoveu tal ação se apresentava apenas como Anonymous. Tudo isso aconteceu em meados de 2010: o embrião que viria a se tornar o coletivo de hackers anônimos responsável pelo ataque teve suas origens por volta de 2003.

Em fóruns ou imageboards da internet, visitantes que publicam alguma foto ou texto e não querem ser identificados são rotulados, pelos sites, de "Anonymous": anônimo, claro. Protegidos pelo anonimato, esses usuários poderiam externar opiniões polêmicas ou divulgar imagens e fotos chocantes sem precisar se preocupar com qualquer tipo de retaliação. Por causa desse comportamento, usuários de imageboards - como o 4chan - começaram, pelos idos de 2003, a se referir jocosamente aos anônimos como se eles fossem uma única pessoa: Anonymous. A partir disso e com a popularização crescente dos imageboards, o conceito foi evoluindo para a ideia de um coletivo de indíviduos não-identificados e que agiam de maneiras semelhantes.

Até então, Anonymous dificilmente poderia ser caracterizado sequer como um grupo: não passava de um mero conceito que abarcava indivíduos sem qualquer relação um com o outro e cujas atividades na internet não passavam de recreação. A partir de 2008, entretanto, um número cada vez maior de ações envolvendo ativismo hacker e protestos pela liberdade de expressão e liberdade na web passou a ser creditado a Anonymous, e o grupo - se é que é adequado usar o termo "grupo" - foi tomando a forma que tem hoje. Desde protestos online contra a corrupção na Índia até os ataques ao site da HBGary, firma de segurança americana disposta a manter o sigilo de documentos diplomáticos que poderiam vazar pelo Wikileaks, as ações do Anonymous como unidade colaborativa são inúmeras. Os meios pelos quais tais ações são tomadas por vezes são ilegais e constituem crimes cibernéticos, o que faz com que o grupo torne-se ainda mais polêmico.

Tais crimes podem dificilmente ser julgados, pois a tarefa de procurar um único responsável na enorme massa de anônimos é praticamente impossível. Afinal, qualquer ação exercida anonimamente por uma pessoa e que ela atribua a Anonymous a torna, efetivamente, membro da sociedade; ao passo de que o simples ato de deixar o anonimato de lado faz com que ela deixe de fazer parte do grupo. Isso não impede as autoridades de tentar capturar supostos envolvidos com a comunidade: os governos da Espanha e Inglaterra já chegaram a prender hackers suspeitos de estarem envolvidos com o Anonymous, rastreando suas atividades cibernéticas e descobrindo suas identidades. Contudo, como provar que eles realmente integram o grupo? E, mesmo que isso possa ser provado, que diferença fará para o gigantesco contingente de integrantes ao redor do globo?

Seja visto como um grupo de foras-da-lei lutando pelo bem da sociedade e pela liberdade ou como baderneiros que foram um pouco longe demais, o Anonymous é um coletivo que possui força suficiente para não dever ser ignorado, tanto pelos governos quanto pela população. De minha parte, acho que seus componentes devem ser no mínimo respeitados, senão admirados, por pelo menos se mobilizarem ativamente a favor do que acreditam ao invés de se mover somente pela inércia dos acontecimentos, como grande parte das pessoas. Deixo-vos com um vídeo-carta do grupo, datado de dezembro de 2010, no qual são esclarecidas suas intenções, potenciais alvos etc. Cliquem em CC para ativar as legendas em português.

E lembrem-se: "Somos Anonymous. Somos legião. Não perdoamos. Não esquecemos. Esperem e verão".




Um comentário:

  1. Muito interessante, esse ativismo via net vem acontecendo muito, já que os movimentos sociais trocaram a praça pelos websites. O ponto positivo disso é a dificuldade de reprimir movimentos assim - o que podem fazer? Não dá pra jogar gás lacrimogênio virtual e ainda não inventaram uma cacetada por e-mail. Mesmo rastrear os responsáveis fica complicado, processá-los então, nem se fala; sobretudo no Brasil, onde inexiste uma legislação específica para crimes cibernéticos. O ponto negativo é o vandalismo pesudo-ativista, hackers que se servem de pretextos políticos para causar danos indébitos. Veja só o que fizeram com o site da UnB, algo completamente desnecessário...

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