sábado, 18 de junho de 2011

Futuro passado


Foto: O Circo por Anna Ester Alves.
Sim, você já viu isto antes, principalmente se tiver por volta de 60 anos de idade. A imagem acima é a simulação de uma foto Polaroid. Apesar de perder toda a graça da foto instantânea, física, incorrigível, é possível fazer imitações gratuitas do clássico modelo de fotos das antigas Polaroids digitalmente. A foto foi modificada através do site: http://www.polaroin.com/. A marca, que faliu por conta do boom da fotografia digital, foi relançada na segunda metade do ano passado devido à crescente demanda por câmeras e filmes para revelação.

O mesmo ocorre com as demais câmeras analógicas. A loja Lomography, que tem filial no Brasil e em mais 28 países, incentiva a fotografia analógica (ou lomografia), promovendo concursos de melhores fotos, exposições, grupos de discussões além de colocar à venda filmes, acessórios e câmeras que esvaziam rapidamente o estoque.

Passando para a moda, a palavra agora é vintage. As tendências que duravam uma década agora duram uma estação. Particularmente não sigo nenhuma tendência, mas acompanho as semanas de moda e os comentários da minha mãe dizendo que “teve uma roupa igualzinha quando tinha 20 anos”. Há um ano tentávamos nos embalar a vácuo em calças que pareciam exatamente uma segunda pele. Hoje, detestamos isso e usamos calças “largadas”, frouxas e até mesmo as antes abomináveis bocas de sino.

Foto: Arthur Shatz para Revista Life, 1969.


Musicalmente, vemos o crescimento da chamada nova MPB. Artistas que resgatam a bossa nova, o samba de raiz e os adaptam aos gêneros modernos (ou modernizados), como o indie rock, o rap, etc. Por tabela, as fontes voltam com força e escutamos novamente nomes como Chico Buarque e Caetano Veloso, Mutantes ou Maysa (com a diferença de que não voltam como músicos populares, mas disseminados entre um público mais restrito).

A pergunta é: o que faz com que a geração seja tomada por esse sentimento de revival das coisas do passado? Porque a mídia está constantemente, como num ciclo, resgatando ícones de outras décadas e adaptando-os ao mundo moderno?

É como se o futuro fosse um grande trabalho de patchwork. A originalidade está em saber unir os diferentes retalhos de maneira única, como fazia o bricoleur. Há uma certa nostalgia (mesmo que inconsciente) do passado que não vivemos entre a juventude hoje, e não só nas áreas da arte, este sentimento está presente em todas as situações que envolvem relações extrapessoais.

A mídia traz o passado de volta com interesses apenas superficiais, mas este passado traz consigo os valores históricos que esquecemos. Seguimos exemplos, desconstruímos trabalhos passados, fazemos adaptações e o mais importante, reaprendemos a ser cidadãos. E o futuro a nós pertence.

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